domingo, 5 de janeiro de 2020

Meu paciente jovem teve um AVC, e agora?

Ainda que seja mais comum em adultos mais velhos, o acidente vascular cerebral (AVC) também ocorre em neonatos, crianças e adultos jovens, resultando em morbidade e mortalidade importantes. Como o tópico de AVCs é enorme, a proposta deste artigo é focar no AVC arterial isquêmico no jovem adulto até 45 anos de idade, pois a isquemia cerebral costuma possuir avenidas bastante amplas em termos de investigação para sua etiologia e possibilidades de prevenção secundária.
Há neste assunto espaço para aprofundar-se em longas discussões aos que por elas se interessarem, porém, é importante que todo clínico saiba identificar os pontos principais das causas desta doença cuja incidência é estimada de 3,4 a até 22,8/100.000 pessoas por ano.
Em predominância por sexo, a incidência de AVCs é maior em homens do que em mulheres, independente de idade, subtipo de AVC ou histórico de trauma. Nas crianças e nos adultos jovens, alguns dos fatores de risco que contribuem para causa de AVC são distintos dos habituais conhecidos para adultos mais velhos.
Nos jovens, falaremos muito mais sobre:
  • Doenças cardíacas congênitas ou adquiridas;
  • Condições hematológicas;
  • Vasculopatias;
  • Distúrbios metabólicos;
  • Ingestão de substâncias exógenas como drogas.
Infelizmente, os escassos dados disponíveis sobre causas e fatores de risco para AVC nos adultos jovens advém apenas de coortes populacionais ou de estudos unicêntricos.
Um dos maiores estudos de coorte realizados sobre o assunto na Finlândia consistiu de 1.008 pacientes com idades de 15 a 49 anos com seu primeiro AVC isquêmico, e trouxe as seguintes observações:
– A ocorrência do AVC isquêmico aumenta exponencialmente com a idade.
– De maneira geral, os fatores de risco mais comuns foram dislipidemia, tabagismo e hipertensão, encontrados em 60, 44 e 39%, respectivamente.
– As etiologias mais comuns foram cardioembolismo e dissecção arterial cervicocefálica em 20 e 15%, respectivamente.
– A proporção de doença de pequenos vasos e aterosclerose de grandes vasos (14 e 8%) aumenta de forma significativa inicialmente entre as idades de 30 a 35 anos.
– A frequência de AVC de etiologia indeterminada (33%) diminuiu com a idade.
Este estudo realizado na Finlândia chama a atenção para o fato de que, ainda que o paciente jovem precise de uma investigação usualmente mais ampla do que o mais velho, os tradicionais fatores de risco para AVC (como tabagismo, hipertensãodislipidemia) podem já ser os responsáveis pelo AVC. Nestes casos o AVC seria apenas uma infeliz manifestação precoce de doença cardiovascular. Para estes pacientes, os cuidados de prevenção secundária voltados a correção do fator de risco cardiovascular será similar a abordagem que é usual para adultos mais velhos.
E para aqueles adultos jovens que não apresentam um óbvio fator de risco tradicional para AVC, como conduzir a investigação de uma forma dirigida, economicamente razoável, e aumentar as chances de corretamente realizar a posterior prevenção secundária? Vamos abordar as diferentes frentes que necessitam ser avaliadas nestes pacientes.
Aspecto cardíaco: as doenças congênitas cardíacas são um risco para AVC cardioembólico, especialmente no período perioperatório ou após cateterismo cardíaco. Mesmo por anos após a correção cirúrgica ou paliativa, estas doenças congênitas continuam representando um risco de 9 a 12 vezes maior para AVC no adulto jovem afetado do que na população em geral. No entanto, o papel do forame oval patente (FOP) e prolapso da valva mitral, anormalidades cardíacas muito comuns, persiste ainda de forma controversa. Lesões cardíacas adquiridas, como endocardite, cardiomiopatia, valva prostética, também são fatores de risco para AVC. De maneira geral, a contribuição cardíaca para o AVC pode incluir os seguintes mecanismos:
  • Embolia paradoxal.
  • Hiperviscosidade.
  • Risco aumentado de êmbolos sépticos.
  • Dilatação de câmeras cardíacas e respectiva formação de trombos.
  • Arritmias.
Aspecto hematológico: a anemia falciforme é a causa mais comum de AVC em crianças. Já nos adultos jovens, também devemos considerar outras afecções hematológicas. Outras anemias, particularmente a ferropriva, pode estar envolvidas. As trombofilias, mutações de antitrombina, protrombina, por exemplo, são mais comuns e estatisticamente significativas quando consideramos o AVC em crianças. Nos adultos jovens, essa associação é mais incerta quando tratamos de AVC arterial isquêmico, porém são fatores a se considerar quando deparar-se com tromboembolismo venoso. Como o propósito deste artigo é o foco em AVC arterial isquêmico, as evidências fundamentam que nestes casos deve-se de rotina pesquisar apenas os seguintes fatores no adulto jovem:
  • Anticorpo antifosfolípede
  • Mutação do fator V de Leiden
Uso de anticoncepcionais hormonais orais (ACHO): o uso de ACHO foi associado a um pequeno porém significante aumento de incidência de AVC isquêmico em vários estudos, mas não em todos. Esta preocupação era maior no início do uso de ACHOs com maior dose de estrogênio. As preparações que contém menos de 50mcg de etinil-estradiol estão associadas com menor risco. Importante notar que em mulheres jovens saudáveis (não-tabagistas e sem hipertensão arterial sistêmica), o risco é bastante baixo. Torna-se um fator mais preocupante quando combinado com outros fatores de risco:
  • Idade mais avançada (>39 anos);
  • Tabagismo;
  • Enxaqueca com aura
  • Hipertensão arterial sistêmica;
  • Obesidade
  • Dislipidemia
  • Mutações protrombóticas
Importante notar que as apresentações injetáveis e de patch transdérmico, quando contiverem estrogênio, também podem aumentar o risco para AVC isquêmico. O risco parece ser menor para AVC e outros eventos cardioembólicos nos contraceptivos com apenas progesterona e/ou combinados. De toda forma, é válido considerar outras formas não-hormonais de contraceptivos nas mulheres jovens que tenham apresentado um AVC isquêmico.
Dissecção arterial: trata-se de um fator vascular importante em algumas séries de adultos jovens estudadas. Enquanto o trauma vascular definitivo ou provável é identificado em alguns pacientes, também pode ocorrer uma dissecção espontânea. Doenças do tecido conjuntivo como a síndrome de Ehlers-Danlos e síndrome de Marfan, por exemplo, podem predispor a dissecção.
Abuso de substâncias: o uso de drogas simpaticomiméticas, como cocaína e metanfetamina, pode causar AVC por hipertensão, vasoespasmo ou vasculite. Outras substâncias que já tiveram dados epidemiológicos relacionados a AVC incluem: heroína, outros opiáceos, marijuana, canabinoides sintéticos.
Vasculites: as doenças inflamatórias vasculares que afetam os vasos cerebrais podem ser primárias ou secundárias.
• As vasculites primárias relacionadas com AVC isquêmico incluem:
◦ Arterite de Takayasu;
◦ Arterite de células gigantes;
◦ Poliarterite nodosa;
◦ Doença de Kawasaki;
◦ Angiite primária do sistema nervoso central (SNC).
• As vasculites secundárias relacionadas com AVC isquêmico são associadas afecções do colágeno vascular, como o ocorrido no lúpus ou em infecções diversas, por exemplo:
◦ Meningite bacteriana;
◦ Infecções virais incluindo o HIV e varicella;
◦ Sífilis;
◦ Tuberculose do SNC;
◦ Infecções fúngicas.
Distúrbios metabólicos: geralmente estão associadas com AVC por seu efeito na parede vascular. Usualmente apresentam-se de forma bastante precoce, seja ainda na infância ou no início da vida adulta e costumam apresentar pistas em outros familiares de acordo com seu padrão de herança genética. São alguns exemplos mais relevantes:
– CADASIL (cerebral autosomal-dominant arteriopathy with subcortical infarcts and leukoencephalopathy): doença autossômica dominante que leva a uma degeneração progressiva das células musculares lisas das paredes vasculares. São pacientes que terão precocemente enxaqueca, AVC isquêmico, acidente isquêmico transitório (AIT). Costumeiramente também será possível encontrar um padrão de acometimento familiar com estes eventos ocorrendo ainda na infância e em adultos jovens.
– Doença de Fabry: de armazenamento do lisossomo, ligada ao cromossomo X, que se manifesta em infartos múltiplos no adulto jovem do sexo masculino afetado e nas mulheres que carregam a mutação.
– MELAS (mitochondrial encephalomyopathy with lactic acidosis and stroke-like episodes): doença mitocondrial de herança materna com acometimento de diversos sistemas, cuja marca é a ocorrência de episódios AVC-símiles, ou seja, com clínica similar ao AVC, associadas também a enxaqueca, baixa estatura, perda auditiva. Usualmente se manifesta ainda na infância apesar de um desenvolvimento inicial normal. Um curso remitente-recorrente é o mais comum. Os episódios vão levando a uma disfunção neurológica progressiva e demência.
Foi realmente um AVC?
Por fim, lembremos que o diagnóstico diferencial para o AVC arterial isquêmico é amplo e existem outras doenças que podem se apresentar com déficits neurológicos agudos. Algumas condições que podem mimetizar AVCs arteriais isquêmicos no adulto jovem incluem:
  • Outras anormalidades vasculares: hemorragia intracraniana; aneurisma cerebral; malformação arteriovenosa; trombose de seios venosos cerebrais;
  • Condições não-vasculares: tumores; lesões estruturais; paresia pos-ictal prolongada (Todd); migrânea complicada; hemiplegia familiar alternante; infecção intracraniana; hipertensão intracraniana idiopática; doenças desmielinizantes; situações tóxico-metabólicas; síncope; condições psicogênicas.
Em resumo, embora os fatores de risco para AVC arterial isquêmico em adultos jovens sejam diferentes dos típicos no adulto mais velho, ainda é importante lembrar do papel dos fatores clássicos como hipertensão, tabagismo, diabetes e hipercolesterolemia.
Quando for necessário expandir a sua busca por outras etiologias, direcione a investigação para pistas que virão, principalmente, da boa anamnese extraída do paciente e/ou de outros informantes. Levantar o histórico de afecções prévias do paciente, mesmo aquelas ocorridas ainda na infância, pode trazer pontos de partida mais claros na sua pesquisa. De forma similar, uma história familiar que pesquise possíveis eventos cardiovasculares ocorridos precocemente também pode ser útil, bem como o levantamento dos hábitos do paciente na questão de uso de medicamentos e eventuais abusos de substância.
Quando falamos do reconhecimento precoce do AVC no jovem, é importante reforçar para a população em geral o fato de que isso pode acontecer mesmo nos adultos mais jovens e nas crianças, pois os estudos ainda demonstram que estes pacientes chegam aos hospitais de forma mais tardia e usualmente não trazidos por ambulância. Este atraso potencialmente prejudica o tratamento precoce com trombólise nos casos indicados.
A investigação da etiologia do AVC arterial isquêmico no adulto jovem é um convite para o clínico considerar como esta doença pode ser o sinal de alerta para diversas doenças sistêmicas.
Autora:
Referências:
  • Kristensen B, Malm J, Carlberg B, Stegmayr B, Backman C, Fagerlund M, Olsson T. Epidemiology and etiology of ischemic stroke in young adults aged 18 to 44 years in northern Sweden. Stroke. 1997 Sep;28(9):1702-9.
  • Nencini P, Inzitari D, Baruffi MC, Fratiglioni L, Gagliardi R, Benvenuti L, Buccheri AM, Cecchi L, Passigli A, Rosselli A, et al. Incidence of stroke in young adults in Florence, Italy. Stroke. 1988 Aug;19(8):977-81.
  • Putaala J, Metso AJ, Metso TM, et al. Analysis of 1008 consecutive patients aged 15 to 49 with first-ever ischemic stroke: the Helsinki young stroke registry. Stroke 2009; 40:1195.
  • Leys D, Bandu L, Hénon H, et al. Clinical outcome in 287 consecutive young adults (15 to 45 years) with ischemic stroke. Neurology 2002; 59:26.
  • Ji R, Schwamm LH, Pervez MA, Singhal AB. Ischemic stroke and transient ischemic attack in young adults: risk factors, diagnostic yield, neuroimaging, and thrombolysis. JAMA Neurol 2013; 70:51.
  • Lutski M, Zucker I, Shohat T, Tanne D. Characteristics and Outcomes of Young Patients with First-Ever Ischemic Stroke Compared to Older Patients: The National Acute Stroke Israeli Registry. Front Neurol. 2017 Aug 21;8:421.
  • José M Ferro, Ayrton R Massaro, Jean-Louis Mas – Aetiological diagnosis of ischaemic stroke in young adults J Neurol Neurophysiol 2012, 3:4 DOI: 10.4172/2155-9562.1000133

Teste de concentração: descubra como está o seu poder de se focar nas tarefas diárias

Seu perfil é do tipo que faz anotação ou que nunca se esquece de nada?
Resposta às perguntas e vá somando os números ao final da resposta.
1. Quando tem uma tarefa para realizar, você:a) Prepara-se com antecedência e conclui antes do prazo (1)
b) Faz várias anotações para usar durante o trabalho (3)
c) Pensa e conversa com outras pessoas antes de começar a trabalhar (4)
d) Deixa para a última hora (2)
 
2. Seu local de trabalho é:a) Organizado e tem apenas objetos necessários (4)
b) Limpo, exceto pelo que precisa para fazer o seu trabalho (2)
c) Um pequeno espaço no meio de uma grande desorganização (3)
d) Você não tem espaço de trabalho (1)
 
3. Quando está trabalhando, você prefere:a) Silêncio total (3)
b) Algum som de fundo (2)
c) Música (4)
d) Qualquer uma das anteriores ? você é indiferente a sons (1)
 
4. Quando está usando o telefone, você:a) Costuma usar o ouvido direito (4)
b) Costuma usar o ouvido esquerdo (3)
c) Altena entre os ouvidos (1)
d) Prefere usar um aparelho que deixei suas mãos livres e permita que você se movimente (2)
 
5. Você usa o telefone com mais frequência para:
a) Fofocar (4)
b) Fazer telefonemas de trabalho (1)
c) Trocar o mínimo de informações (3)
d) O mínimo possível (2)
 
6. Com qual frequência você desliga o celular:

a) Nunca (4)
b) Quando não estou trabalhando, portanto, à noite (2)
c) Quando vai dormir (3)
d) Não tem celular (1)
 
7. Quando lê, você:
a) Lê conscientemente cada palavra como se pudesse ouvi-la na sua mente (3)
b) Murmura as palavras enquando lê (4)
c) Faz anotações enquando lê (2)
d) Faz uma leitura dinâmica (1)
 
8. A fim de não se esquecer de algo, você:
a) Escreve um lembrete para si mesmo (3)
b) Repete para se lembrar (4)
c) Coloca um objeto em um lugar diferente para se lembrar (2)
d) Nenhuma das anteriores ? você nunca se esquece (1)
 
9. A fim de encontrar a solução para um problema, você:
a) Pensa em várias formas diferentes de resolvê-lo (4)
b) Encontra imediatamente uma forma de resolvê-lo (3)
c) Entra em pânico (1)
d) Pede ajuda a alguém (2)
 
10. Quando trabalha em um projeto, você prefere:
a) Trabalhar só (3)
b) Trabalhar com uma ou duas pessoas (1)
c) Liderar uma equipe (4)
d) Colaborar com uma equipe emprestando seu conhecimento (2)
 
Pontuações
 
10-15 pontos:
Você é uma pessoa com quem é fácil se relacionar e não tem uma preferência em especial para lidar com as coisas, mas pode achar mais fácil concentrar-se em algumas coisas que em outras. Identificar o que é mais natural para você pode ajudá-lo a encontrar diferentes formas de resolver problemas quando achar que não consegue sair do lugar.
 
16-25 pontos:
Você tende a preferir ação. Acha mais fácil concentrar-se em algo que faz um sentido físico para você, portanto gosta de resolver as coisas movimentando-se, avaliando-as a partir de pontos de vista diferentes e tocando-as. Provavelmente, tem boas habilidades espaciais e avalia tudo de vários ângulos, preferindo o pensamento divergente. Gosta de ser bom no que faz e fica feliz tanto em acrescentar conhecimento a uma equipe quanto em trabalhar sozinho.
 
26-35 pontos:
Você prefere o aprendizado visual. Provavelmente rabisca quando usa o telefone e gosta de resolver problemas desenhando diagramas ou fluxogramas e fazendo listas. Você pode aperfeiçoar suas habilidades auditivas para equilibrar isso, mas tende a lembrar-se das coisas visualizando-as, e pode ser bom em soletração, pois é capaz de "ver" as palavras na sua mente.
 
36-40 pontos:
Você prefere o aprendizado auditivo e, provavelmente, se concentra com facilidade no que ouve. Pode ser um bom linguista, mímico ou músico. Contudo, pode equilibrar isso procurando formas adicionais de se concentrar: não confiar apenas no que está na sua cabeça quando tentar aumentar sua capacidade de concentração ? faça também anotações.
 
Fonte: A Arte da Concentração, de Harriet Griffey. Editora Larousse

Assédio sexual pelas redes sociais também pode ser considerado crime

Por Patrícia Gnipper | 16 de Dezembro de 2015 

Apesar de não ser um assunto tão polêmico quanto mamilos no Facebook, o assédio sexual é um tema delicado que precisa ser debatido. Você costuma “dar em cima” das meninas pelas redes sociais? Pois tome cuidado: dependendo da sua abordagem, além de arriscar “queimar seu filme” com as moças, ainda pode estar cometendo um crime sem ter a menor noção das consequências.

Pondo os pingos nos “is”

Antes de tudo, vamos começar pelo básico: como diferenciar o que é elogio, assédio e abuso sexual? Existe uma linha tênue que separa esses comportamentos, mas um pouco de informação aliada a um tanto de bom senso pode resolver facilmente a questão. Mesmo que muitas mulheres não se sintam confortáveis com a prática, dar uma “cantada” não é crime, mas assédio sexual configura comportamento criminoso e pode gerar até dois anos de detenção, em caso de condenação.
Legalmente falando, o assédio sexual acontece quando um superior hierárquico se vale de seu poder para constranger um subordinado com finalidades sexuais. Já o abuso se dá na prática da violência física, como o estupro. Ao passo em que o assédio pode não causar dor física, causa constrangimento equivalente e intimidação, podendo levar a vítima a sofrer traumas e outros problemas psicológicos. E por exemplo, se um homem mostrar o pênis para uma mulher na rua isso é considerado crime; mas e quando isso acontece no ambiente virtual?
Segundo Gisele Truzzi, advogada especialista em Direito Digital e atuante na área desde 2005, a “cantada” invasiva pode ser considerada uma contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor, definida pelo artigo 61 da Lei de Contravenções Penais (Lei nº 3688/41). Nesse caso, a pena imposta é a de uma multa definida em processo judicial. Outra possibilidade legal é a de enquadrar a pessoa “sem noção” como praticante de injúria, caso haja xingamentos e ofensas. Em ambos os casos, a recomendação de Truzzi para as vítimas é tirar prints das mensagens recebidas e procurar um advogado, que dará toda a assistência necessária para que a vítima leve o caso adiante.
Gisele Truzzi
A advogada proprietária do Truzzi Advogados, escritório especializado em direito digital (Reprodução: Divulgação)

Não é exagero

Enquanto para alguns a reação negativa por parte de mulheres abordadas virtualmente é considerada exagero ou “mimimi” (expressão que se popularizou recentemente na internet e acaba sendo bastante utilizada para desqualificar opressões sofridas por minorias sociais), institutos de pesquisa de todo o mundo encaram o tema com mais seriedade. Um deles é o Pew Research Center, dos Estados Unidos, que realiza pesquisas sociais, demográficas e de opinião pública em todo o mundo. Em 2014, a organização divulgou um estudo sobre o assédio na internet, revelando que 73% dos usuários da rede já presenciaram alguma situação de assédio, e 40% alegaram já terem sido vítima desse comportamento.
O levantamento foi realizado entre maio e junho daquele ano, contando com a participação de 2.849 usuários da internet de qualquer gênero e identidade sexual, e questionou os entrevistados a respeito de situações envolvendo agressões diversas, desde o uso de nomes ofensivos até o assédio sexual e ameaças de violência física.
De acordo com os resultados, homens estão mais propensos a sofrerem ofensas virtuais, enquanto mulheres jovens são mais vulneráveis para o assédio e a perseguição virtual (o velho “stalk”). As redes sociais são o ambiente preferido dos agressores, mas um número considerável de casos também foi relatado durante jogos online e seções de comentários em websites. Outros meios das abordagens agressivas acontecerem são e-mails e sites ou aplicativos de encontros — como o Tinder, por exemplo.
47% das pessoas entrevistadas disseram que responderam aos agressores, enquanto 44% acabaram dando unfriend ou até mesmo bloqueando o assediador, independente de ter havido um confronto ou não. Uma parcela menor denunciou a pessoa ao site ou serviço usado para a prática da abordagem invasiva, e somente 5% acabou procurando soluções legais para enfrentar o problema.

Contra prints, não há argumentos

Muitos homens que não costumam assediar garotas pela internet e tampouco enviam fotos íntimas não solicitadas ficam tão indignados quando alguma conhecida passa por essa situação que, por vezes, acreditam se tratar de invenção. Então conversamos com algumas mulheres que gentilmente nos contaram alguns desses casos, ilustrando-os com prints para mostrar que esse tipo de incômodo acontece, sim, e com maior frequência do que se imagina.
assédio sexual virtual
Mesmo sem obter resposta, os assediadores insistem no envio das mensagens invasivas
assédio sexual virtual

Esse ficou quase 1 ano no vácuo...

Vanessa Profili é assistente de marketing e também trabalha como modelo alternativa. A jovem de 27 anos superou a obesidade com uma cirurgia bariátrica há pouco mais de dois anos, e o assédio cresceu drasticamente após a mudança na sua aparência. Ela contou que recebe mensagens invasivas em todas as redes sociais que utiliza quase que diariamente, com mais intensidade logo após publicar fotos em que aparece seminua.
Vanessa Profili
Vanessa posa para ensaios sensuais e também para lojas de moda alternativa (Reprodução: PG Foto)
Não bastando o assédio virtual, eventualmente a invasão acontece ao vivo, também. Vanessa disse que já aconteceu mais de uma vez de ela estar em algum lugar público e ser abordada por homens alegando já terem visto fotografias dela na rede, ou ainda receber um “oi, estou do seu lado” pelo chat do Facebook (creepy!).
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Modelos alternativas costumam ser "stalkeadas" direta e indiretamente
assédio sexual virtual
Além de "elogios" invasivos, a modelo também costuma receber propostas estranhas...
Com Giulia Henne, produtora de eventos, DJ e também modelo, acontece parecido. A jovem formada em design industrial tem 26 anos de idade e costuma ser bastante assediada em comentários nas redes sociais ou nas mensagens privadas. “Meu trabalho atrai muitos assediadores, principalmente por já ter feito algumas fotos nua. As pessoas acreditam que pelo fato de estar sem roupas, elas têm o direito de me falar qualquer tipo de coisa”, conta.
Giulia Henne
A modelo também é produtora de festas, DJ e designer por formação (Reprodução: Facebook/Giulia Henne)
As investidas masculinas são tão intensas que Giulia até criou um Tumblr chamado “Virjões do inbox”, onde expõe prints das mensagens mais absurdas e invasivas que costuma receber (censurando nomes e fotos de avatar para evitar possíveis contratempos legais). A produtora de eventos contou também que um dos momentos de sua vida em que foi mais assediada virtualmente foi quando teve uma foto sua constando nos “trendings” do 9GAG, comunidade de humor acessada por pessoas de todo o mundo. “Em questão de horas recebi uma chuva de inbox de gringos e de brasileiros falando que eu era ‘attention whore’. Fiquei muito chocada, porque não entendia o motivo que levou todos aqueles homens que fazem posts engraçados a me ofenderem daquela forma”, contou.
Mesmo sem ser uma garota de programa, Giulia já recebeu esse tipo de proposta
assédio sexual virtual

Até ameaças de estupro são feitas em formato de "elogio"

Depois, a modelo foi personagem de uma matéria em um portal de notícias contando sobre essas mensagens abusadas que costuma receber, mas o “tiro saiu pela culatra”. No lugar da conscientização esperada, Giulia recebeu uma quantidade ainda maior de ofensas e conteúdo despudorado. “Às vezes me sinto em um grande hospício. Tento ver como se esse comportamento fosse uma doença, porque não é possível que algo tão inofensivo como um ensaio sensual incomode tanto os outros”, desabafa.
assédio virtual

Medo!

Já com Gwen Black, nome artístico da modelo de 22 anos, o assédio se transformou em ameaças. Ex estudante de direito, a moça, que também trabalha como camgirl, recebeu comentários ofensivos por parte de antigos colegas do curso de graduação.
Gwen Black
Ex-estudante de Direito, Gwen trancou a faculdade para se dedicar à carreira de modelo (Reprodução: Facebook/Gwen Black)
Com a ajuda de conhecidos da área de TI, Gwen conseguiu rastrear endereços de IP dos autores de algumas dessas mensagens e levou o material para um advogado, porém o caso ainda não foi concluído.
assédio sexual virtual
Mensagens anônimas em tom de ameaça recebidas por Gwen pelo Tumblr
E por falar em juristas, mesmo sendo advogada Gisele Truzzi também não está imune a esse tipo de situação. Ela contou que “houve um caso em que o indivíduo me acompanhava em todas as redes sociais e sempre era um dos primeiros a interagir com as minhas publicações”, e que a insistência do rapaz em conversar, mesmo sem que ela tivesse o interesse, fez com que Gisele até tivesse receio de dar novas palestras abertas ao público com medo do indivíduo aparecer no local. Por fim, o rapaz acabou sendo bloqueado das redes sociais da advogada e também das páginas de seu escritório.

Acontece com todas

Ou quase todas as mulheres. Muito se engana quem pensa que somente as garotas jovens que têm uma exposição maior nas redes sociais recebem fotos não solicitadas de órgãos sexuais e mensagens sexualmente explícitas. A advogada Gisele Truzzi nos contou que, entre seus casos atendidos, há desde modelos a estudantes universitárias, médicas, jornalistas, funcionárias públicas, secretárias, modelos, donas-de-casa e até menores de idade.
assédio virtual

Alguns homens enviam fotos de seus genitais antes mesmo de qualquer interação. A mensagem à direita, por exemplo, foi recebida por uma senhora de 60 anos de idade, que não quis ser identificada na matéria.

Outro engano é pensar que somente homens psicologicamente doentes praticam importunação ofensiva ao pudor ou assédio sexual pela internet. Esse tipo de atitude violenta é uma consequência do machismo da nossa sociedade, uma vez que é naturalizada a ideia de que mulheres estão sempre disponíveis e interessadas pelo ato sexual com pessoas do sexo oposto. A garota que recebe um elogio invasivo ou uma foto sexualmente explícita sem ter solicitado é comumente tida como “mal com***” e costuma ler respostas em tom agressivo após suas negativas. Por outro lado, a mulher sexualmente liberal que aceita trocar mensagens e fotos sexuais constantemente acaba sendo considerada vulgar, e também lida com respostas ofensivas.

Não é uma questão moralista

Levantar a voz contra o assédio sexual não tem relação com moralismo: é uma questão de respeito e de cumprimento das leis que regem a sociedade brasileira. Alguns homens podem não concordar, mas enquanto mulheres se sentirem acuadas e intimidadas para recusar um avanço sexual — seja ele ao vivo ou pelas redes sociais — é sinal de que a cultura do estupro ainda está enraizada na mentalidade geral e que comportamentos potencialmente criminosos são cobertos por “panos quentes” na nossa comunidade.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Recomeçar é viver uma nova chance


Recomeçar não significa apenas começar de novo, pois a atitude de quem acredita nos recomeços indica o alcance da maturidade. Porque só quem tem maturidade consegue pisar em cima do próprio ego e reconhecer que errou em determinadas escolhas e que é necessário plantar novos passos em novos destinos.

Mudar é necessário, seguir é preciso, recomeçar é sempre possível!


Nossa vida é feita de fases, recomeços, idas e vindas. Estamos envoltos em diversos pensamentos, sonhos, desejos buscamos alternativas para concretizá-los adquirindo experiências, aprendizados.
Muitas vezes, as coisas não saem como planejamos e não conseguimos aceitar que não deram certo, que erramos, que um dia se perde e em outro se ganha. Percebemos que a vida não é só de alegrias mas de lutas, desacertos, inúmeras tentativas, recomeços.
Precisamos entender que falhas fazem parte do nosso desenvolvimento, elas acontecem para nos mostrar onde é necessário melhorar já que quase tudo na vida tem margem de erro e acerto.
Portanto, é normal recomeçar, tentar outro caminho, aceitar que algo precisa ser aperfeiçoado para alcançar progresso.

Não podemos baixar a cabeça, contar com a sorte, temos que buscar, desejar reverter a situação, lutar para retomar a confiança pois sempre é tempo de perseverar. Quando as coisas dão errado, o insucesso vem ao nosso encontro e nos dá a oportunidade de reavaliar nossos esforços, investimentos com mais empenho, concentração, inteligência  para reerguer. O insucesso é como um barco à deriva carregado de angústia, á procura de equilíbrio, direção, força para levantar âncoras, içar velas, ganhar velocidade.
Assim é a vida, cheia de incertezas, percalços pois até o caminho do sucesso, os obstáculos são muitos. Nada como um dia após o outro para tentar novamente, pois é só tentando que viabiliza o acerto almejado. Por isso, melhor é se posicionar, tomar iniciativas, ter novas ideias, agendar estratégias, buscar recursos, contar com muita determinação. Todos temos dias bons, ruins mas o que muda a situação é a forma como reagimos, lidamos com o inesperado, convertemos o aprendizado para reconstrução. Aprendemos que as coisas mudam e com a gente não é diferente: o  importante é ter fé, ser positivo, manter-se de pé, firmar o corpo, encarar o desafio, não entregar os pontos, persistir para que aconteçam novas conquistas, descobertas.
Alguns podem até opinar, ir contra nossas ideias mas o que importa não é dar crédito à opinião dos outros e sim às nossas. Não podemos permitir que o desânimo tome posse de nossas escolhas, autoconfiança, enfrentando aflições, perdas, bloqueios, defendendo nossos planos futuros.

Recomeçar é sobre não desistir, não se abater, enfrentar o comodismo, admitir que tem direito de errar, querer mais da vida, dar um sim às oportunidades.  Persistindo conseguimos prosseguir.
Que possamos viver cada dia de uma vez, sem estresse, porque a vida dá voltas e nos ensina que todos os dias são válidos, são um presente, uma chance a mais para acertar e que, de uma forma ou outra vamos conseguir chegar ao nosso destino, vivendo, aprendendo e recomeçando. Mudar é necessário, crescer, evoluir. Nunca perca as esperanças!

Nada volta, mas seguir é preciso, recomeçar sempre é possível!