terça-feira, 27 de agosto de 2019

Alterações Emocionais no pós-AVC

As consequências emocionais de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) variam muito de caso para caso.

A reacção imediatamente após o AVC pode não ser a mesma da reacção algumas semanas depois. Algumas pessoas ficam extremamente tristes e sentem que a sua vida, como a conheciam, deixou de existir. Outras podem ficar mais alegres. Estas reacções emocionais podem dever-se a alterações biológicas e psicológicas resultantes do AVC ou podem ser reactivas aos desafios, medos e frustrações que surgem após o AVC.
As sequelas de um AVC, sejam elas motoras ou cognitivas, representam um processo de perdaA pessoa passará por uma série de fases ao tentar adaptar-se emocionalmente a elas. Sentimentos de choque, de negação, de raiva, de tristeza e de culpa são absolutamente normais quando nos deparamos com uma mudança de vida forçada e tão drástica.
Depois do AVC, a pessoa pode ter mais dificuldade em controlar o seu humor e as suas emoções (labilidade emocional). Significa que pode chorar mais ou sem razão aparente e no momento a seguir começar a rir. A pessoa pode também passar a dizer mais palavrões, quando antes não o fazia. Problemas relacionados com a depressão são muito comuns após um AVC, nomeadamente sentimentos de tristeza, de inutilidade, de irritabilidade e alterações no padrão de sono, na alimentação e no pensamento.
As alterações emocionais podem interferir com o potencial de reabilitação no momento crítico de plasticidade cerebral. Sentimentos de frustração, de apatia e mesmo depressão podem condicionar a motivação para realizar as sessões terapêuticas (ex: fisioterapia ou terapia da fala).

Sem dúvida que pode ser muito difícil lidar com as emoções que surgem após um AVC, mas o não reconhecimento dessas emoções pode ser muito prejudicial.”

Lidar com a frustração de ter perdido capacidades é extremamente difícil, mas se esta frustração não for bem gerida, pode acumular-se e tornar a pessoa mais irritável e, por isso, dificultar a sua convivência com os outros. No limite, pode levar a sentimentos de raiva e comportamentos de agressividade.

“Estas mudanças emocionais podem parecer irreversíveis, mas a maior parte das vezes não o são.”

Sentir-se mais em baixo, ansioso ou enraivecido é normal, especialmente nos primeiros seis meses após o AVC. Regra geral, com o passar do tempo, a pessoa vai-se adaptando melhor. Mesmo que estes sentimentos nunca desapareçam completamente, é possível que passe a ser mais fácil conviver com eles.
Existem vários tipos de intervenção que podem ajudar a lidar com as alterações emocionais pós-AVC. O médico poderá explicar-lhe que tipo de soluções existem. Falar sobre os seus sentimentos pode ajudar a lidar com eles de forma mais eficaz. Por exemplo, a consulta de psicologia dá-lhe tempo e espaço para desabafar e trabalhar estes sentimentos complexos com um especialista.
Também a medicação pode ter um papel importante na gestão destas alterações emocionais. Os anti-depressivos, por exemplo, interferem com os neurotransmissores que estão em falta no cérebro e melhoram o humor. No entanto, é de referir que esta medicação não “cura” os problemas emocionais, apenas ajuda a aligeirar os sintomas. Também não tem o efeito desejado em todas as pessoas e pode ter efeitos secundários. Assim, se esta for uma solução recomendada pelo seu médico e se quiser aceitá-la, terá que estar disposto a trabalhar em conjunto com ele e eventualmente fazer alguns ajustes para encontrar a medicação que funciona melhor para si.
Independentemente destas intervenções, há algumas estratégias que pode adoptar para tentar aliviar o sofrimento:
  • Encontre pessoas que compreendem verdadeiramente aquilo que está a sentir (ex: grupos de apoio, como os que existem no Portugal AVC);
  • Procure fazer exercício físico (adaptado às seus capacidades motoras);
  • Participe em actividades que lhe dêem prazer;
  • Congratule-se pelos pequenos ganhos obtidos no seu percurso de reabilitação;
  • Aprenda a olhar para e a “falar” consigo de uma forma mais positiva;
  • Peça ajuda aos seus profissionais de saúde;
  • Descanse e mantenha uma rotina de sono saudável, se possível, pois o AVC pode levar a que se canse mais facilmente.
Revisão Clínica: Margarida Rebolo (neuropsicóloga)

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